Percepções de atuação de intérpretes avatares em lives na esfera cultural

Por Maiara Sena e Vinícius Oliveira

Na semana passada, uma live realizada pelos cantores de sertanejo Leonardo, Gustavo Lima e Daniel chamou a atenção da comunidade surda por utilizar avatar gerado por inteligência artificial para interpretação de Libras. Mas, antes de entrar nesse assunto e entender a problemática dele, vamos entender um pouco o que é a Libras e qual a funcionalidade dela para a comunidade surda.

A Libras, Língua Brasileira de Sinais, promove a acessibilidade comunicacional e foi reconhecida no país como língua através da Lei N.º 10.436, de 24 de abril de 2002. Segundo o texto da Lei, “Entende-se como Língua Brasileira de Sinais – Libras – a forma de comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil.” Logo, podemos entender a Língua Brasileira de Sinais como uma língua gestual, visual e espacial, por ser uma língua que acontece no espaço, na modalidade visual, no qual o interlocutor tem contato direto com o receptor.

Ao entrarmos na questão do uso dos avatares criados por inteligência artificial, temos uma perda muito grande na qualidade da informação que chega aos receptores, ou seja, perda da humanização no processo tradutório. No contexto musical, o qual estamos discutindo, algumas características gramaticais pertencentes a Libras ficam mais intrínsecas, que são as expressões faciais, fundamental para que emoções, sentimentos e intenções sejam transmitidas ao receptor, os movimentos e a expressão corporal, que fazem parte dos parâmetros da Libras. No contexto da tradução feita na live, o avatar reconhece apenas a relação sinal/palavra, não sendo suficiente para que o entendimento completo seja passado ao surdo. Conversando com o Vinícius Oliveira, intérprete de Libras há 14 anos, ele nos explicou que “Uma música, envolve, muitas vezes, a elaboração de classificadores predicativos. Significa que através dos movimentos das mãos, faz com que a poesia da música se torne o mais visual possível para a pessoa surda. Ao invés de fazer só o sinal, você utiliza estratégias visuais, que mostram toda beleza poética daquele contexto.” Dessa forma, entendemos como os intérpretes humanos são fundamentais para que todo o contexto seja transmitido da maneira mais completa para quem recebe a mensagem

É importante ressaltar que o avanço da tecnologia é fundamental e vemos cada dia mais como a inteligência artificial vem avançando em diversos campos, mas não podemos substituí-la por atividades que são essenciais, como os intérpretes humanos em demandas diversas, que se capacitam por anos para entregar a melhor qualidade possível para a comunidade surda, sempre mantendo a qualidade e a clareza nas informações.

Compartilhe!