Por Maria Clara Panuto
Vivemos em uma sociedade capitalista onde o consumo é estimulado o tempo todo. Comprar já é algo intrínseco em nosso modo de vida, mas será que os produtos comercializados são acessíveis para todos? Atividades cotidianas como abrir a pasta de dente, a embalagem do café ou qualquer um dos inúmeros itens que usamos diariamente podem ser impossíveis ou muito difíceis para portadores de deficiência manipular.
O sistema capitalista é baseado nas trocas de mercadorias por dinheiro, e já faz um bom tempo que é assim. Parece até contraditório pensar que empresas cada vez mais poderosas, com lucros exorbitantes, tecnologia e com consumidores mais exigentes, não estão investindo para o desenvolvimento de produtos inclusivos. Os principais problemas são em relação à ergonomia e usabilidade, que dificultam o manuseio. Esses problemas podem tirar a independência das atividades cotidianas, influenciando o bem-estar e a qualidade de vida das pessoas.
“(…) é na evolução do próprio conceito de design que abrange hoje em dia áreas específicas de trabalho, que surge o design inclusivo, diretamente ligado às questões de acessibilidade, de conforto e de usabilidade; visa acima de tudo a criação de objetos, de interfaces e de ambientes acessíveis, usáveis para todos nós e confortáveis” (Machado, A. M. A. Introdução Ao Conceito De Design Inclusivo, 2006). Design inclusivo ou design para todos é o termo atualmente empregado para produtos ou espaços desenvolvidos para serem utilizados para o maior número de pessoas sem necessidade de qualquer adaptação. Na década de 60 e 70 surgiram as primeiras discussões sobre a acessibilidade para pessoas com deficiência física, entretanto, até hoje a maioria dos produtos não são pensados para todos de forma abrangente.
Apesar dos esforços de algumas poucas empresas que pensam nas suas mercadorias e embalagens de maneira inclusiva ou que enxergaram um potencial nesse mercado. Como, por exemplo, a Adaptista, uma nova marca de roupa online para pessoas portadoras de deficiência que promete levar a moda para todos. Há uma lacuna no design inclusivo de novos produtos, pois nas pesquisas e no ato da projeção desses produtos há pouca ou nenhuma representatividade de portadores de deficiência. O que acaba por perpetuar uma sociedade com baixa acessibilidade, onde os designs são pensados para a maioria e ignoram as necessidades de uma minoria que, segundo o IBGE, só no Brasil, são 17 milhões de pessoas que sentem alguma dificuldade diária para atividades do dia-a-dia. Já passou da hora de pensar em uma sociedade mais justa, acessível e com equidade para todos os seus indivíduos.