Por Ana Andrade
The Last of Us, Daisy Jones & The Six e You são três das séries mais populares do momento, cada uma em seu serviço de streaming. Porém, além do sucesso, há outro ponto que as três têm em comum: a falta de acessibilidade. Daisy Jones, série disponível pela Amazon Prime, possui Closed Caption apenas em inglês, assim como a audiodescrição também está disponível apenas no idioma oficial da produção. O mesmo acontece com as outras, originais da HBO Max e Netflix, e o assunto não passou desapercebido pelos espectadores:
Impacto na inclusão
Segundo o Ministério da Educação, 6,5 milhões de brasileiros apresentam deficiência visual em diversos níveis, enquanto 9 milhões possuem deficiência auditiva. No total, 15,5 milhões de pessoas ao redor do país não têm acesso a conteúdos populares porque não há como compreender o conteúdo da forma como é disponibilizado. Com a opção de legenda e com os diálogos e sons da própria série, o máximo seria possível um entendimento parcial, mas não o total.
Embora a legenda ajude com a compreensão do conteúdo visto, a diferença dela para o Closed Caption é justamente o que falta para o entendimento completo: Na legendagem, não é mostrado o nome de quem está falando, nem sons ao redor dos personagens. No Closed Caption, isso já é entregue ao usuário.
Um dos poucos serviços que disponibiliza o serviço de Closed Caption em português é a Globoplay, com o processo feito pela Showcase em novelas e séries, como Travessia e Rensga Hits.
Libras
Libras também é um serviço muito pouco disponibilizado por empresas de streaming. Embora personagens que utilizem a linguagem de sinais estejam aumentando em produções audiovisuais e apareçam em séries como The Last of Us, Dahmer e Gavião Arqueiro, essa mesma linguagem não é disponibilizada para o público que a utiliza na vida real.
Embora a representatividade seja muito importante para todos nós, ganharia ainda mais valor se acompanhada de ações que incluam as pessoas com deficiência, além de mostrar sua existência e vida diária, mesmo que não seja obrigatório por lei.
A janela de libras, atualmente, não é disponibilizada em quase nenhum dos produtos disponibilizados pelos principais serviços de streaming, embora no Brasil, dos 2,7 milhões de deficientes auditivos, 2 milhões se comuniquem pela língua. A Netflix, porém, lançou em 2020 sua primeira série narrada tanto em português como em libras: Crisálida.
Produzida pela Universidade Federal de Santa Catarina, foi desenvolvida como filme em 2014 por Alessandra da Rosa Pinho, aluna da faculdade, e em 2019 se tornou série, mostrando os dilemas e o dia a dia das pessoas que convivem com a surdez. Em 2022, sua segunda temporada foi confirmada e a produção está sendo filmada.
E o que a lei diz?
Desde 2011, a audiodescrição passou a ser obrigatória na televisão brasileira em 20 horas semanais entre 6h e 20h, enquanto o Closed Caption é exigido durante 20 horas diárias desde 2015. Porém, há mais um projeto que pode alterar o modo como a acessibilidade é entregue para o público dos serviços de streaming: o PL 246/2022.
Criado pela Senadora Mara Gabrilli (PSD), o Projeto de Lei prevê a obrigatoriedade de acessibilidade aos streamings. Ou seja, as plataformas não terão mais a opção excludente de lançar conteúdos que nem todos têm a possibilidade de assistir da mesma forma, entendendo completamente o que está sendo exposto.
Porém, a proposta está em tramitação no Congresso Nacional desde sua publicação, em 14 de fevereiro de 2022, com atualização em 21 de dezembro de que continuava em tramitação segundo Regimento Interno. Não há mais nenhuma informação sobre a situação do PL.
Um futuro esperançoso
Com o PL em tramitação e a população na época digital e mais interessada no social, a caminhada para uma inclusão cada vez maior começa a se tornar menor. Resta para nós esperarmos que o trajeto se torne mais rápido do que foi até então e, assim, o futuro seja acessível para todos.
Bibliografia
2 – https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/151732