Lais Faccin: Seus principais trabalhos e uma discussão sobre acessibilidade nos videogames

Por Cássio Xavier

Quando falamos no mercado de entretenimento, sempre pensamos em filmes, com bilheterias milionárias e hits de sucesso no mundo da música, mas um dos mercados que não para de crescer é o de games. De acordo com uma pesquisa da Newzoo, focada em análises do mercado gamer, estima-se que o mercado obteve uma receita de US$ 177,8 bilhões mundialmente em 2020. O Brasil já está em 13º lugar no ranking de países que mais consomem esse tipo de mídia, algo em torno de US$ 1,5 bilhão por ano. 

Mas em questão de acessibilidade, será que esse mercado bilionário investe o suficiente para tornar seus jogos cada vez mais acessíveis? 

Para discutir isso, eu conversei com Lais Faccin, de 26 anos, formada em Letras e que trabalha como streamer de jogos eletrônicos e conteúdo voltado a literatura. Por ser PdC, e conviver diariamente com isso, sua opinião sobre o assunto é muito relevante.

Lais conta que teve dificuldades no início do seu trabalho. “Sou PcD e utilizo cadeira de rodas eletrônica devido a minha doença degenerativa muscular. Precisei adaptar todas as minhas atividades para a área online – antes de piorar a saúde, costumava ir a eventos e fazer atividades ao ar livre com frequência”. Toda essa trajetória pessoal e profissional serviu de inspiração para um de seus trabalhos. “Lancei um livro há alguns anos, o ‘Por Que Continua Me Ensinando?’, onde conto sobre minha trajetória com a doença e como fiz para chegar onde estou”. 

Capa do livro: ‘Por Que Continua Me Ensinando?’ publicado por Lais Faccin

Uma das maiores dificuldades no início de seus trabalhos na internet, foi em relação aos conhecimentos tecnológicos necessários para começar a produzir, onde saber apenas o básico não era o suficiente. Lais ainda conta que precisou se adaptar para continuar, devido a sua piora de saúde. “Cheguei ao ponto onde mal tenho movimentos, mexo um pouco as mãos, pés e cabeça, mas é isso. As dores físicas e mentais são difíceis de aguentar, mas quero muito continuar até onde for possível.” 

Um dos seus projetos atuais é a de streamer na Twitch (Lais_Faccin), onde possui pouco mais de 3 mil seguidores, e trabalha transmitindo jogos, além de conversar com os seus seguidores. Lais conta que, até hoje, sofre com questões de acessibilidade em jogos. “Nos jogos existe certa preocupação em adaptar mecânicas pra quem tem dificuldades, mas a maioria dos desenvolvedores não pensa nisso na hora da produção. Digo isso porque tenho experiência com jogos de várias mídias e são pouquíssimos que possuem qualquer mecânica acessível.” Porém, ela conta que há empresas que se preocupam com isso, e tentam fazer com que seus jogos sejam cada vez mais acessíveis para o público PcD. “Quando penso em acessibilidade em jogo, já lembro de The Last Of Us Parte 2, que chegou a ganhar o The Game Awards de jogo com melhor acessibilidade. Ele realmente é incrível nesse aspecto. Outro jogo que se destaca é The Dark Pictures Anthology: Little Hope.” 

Sabendo disso, a AbleGamers, que é uma associação sem fins lucrativos que auxilia a comunidade PcD nos videogames, a presenteou com um kit de acessibilidade para jogos. Ela acrescenta: “É um trabalho incrível. Sempre acompanho as ações deles pelo Twitter. Então eles fizeram esse intermédio entre eu e os desenvolvedores do Kit Adaptativo Xbox e Microsoft. Ganhei um kit completo para fazer review para a internet e repassar essas observações para eles”. 

Atualmente, apesar das barreiras, ela mantém seu trabalho como criadora de conteúdo, e já está com um projeto novo ainda relacionado com games. É o jogo ‘Crisálida’, que está com financiamento coletivo no Apoia.se. “Toda a equipe que está trabalhando no jogo é composta por mulheres”, acrescenta. 

Link para o projeto: https://apoia.se/crisalida 

Por fim, pedi para que Lais nos deixasse uma mensagem, ela diz: “Conheça realidades diferentes que as suas. Não espere a informação cair no seu colo. Pesquise e se importe. E principalmente, dê espaço para a comunidade PcD no seu cotidiano. Assista lives, vídeos e consuma conteúdos produzidos por pessoas com deficiência. Vocês não precisam falar por nós, apenas escutem quando nós falarmos”.

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